A Magia da Água

A idade é mesmo apenas um número qualquer dentro de uma piscina modesta de Nova York, inaugurada em 1925. Na água, que muitas vezes nem está aquecida o suficiente, 46 senhoras de 55 a 96 anos formam um time de nado sincronizado surpreendente, com fofura até no nome - Honeys and Bears, ou em uma tradução livre "Melzinhas" e Ursinhos. Ninguém abaixo dos 55 pode se candidatar a entrar na equipe. 

O clube fica em bairro pobre da cidade - o Harlem, no alto de Manhattan, já distante do glamour do Central Park. Um lugar onde 65% da população é negra e não tem incentivo para aprender a nadar. Para ficar sócio, idosos precisam apenas de 2 dólares por mês. O mesmo preço é cobrado para crianças.

- Nossas crianças estavam se afogando porque não temos acesso a piscinas, ou não temos como pagar por aulas, aqui elas têm aulas gratuitas. Somos a única equipe negra de nado sincronizado dos Estados Unidos. E porque nado sincronizado? Somos senhoras... na verdade eu diria que somos "jovens senhoras", estamos aqui para nos manter vivas - diz a capitã do time, Monika Hale, de 64 anos, citando o filme "Cocoon".

No clássico do cinema, um grupo de extraterrestres chega à Terra com a missão de resgatar alguns casulos com seres de outro planeta e que estão depositados em uma piscina abandonada. Sem desconfiar de nada, três velhinhos de um asilo próximo entram na água  que está enfeitiçada e rejuvenescem. Para elas, a sensação é parecida. E você passa a concordar com isso ao acompanhar a chegada - em cadeiras de rodas ou usando bengalas - e os movimentos lindos que realizam na água.

A atleta mais velha do time tinha 100 anos, mas deixou de praticar há alguns meses. Sendo assim, Letisse Graham passou a ser a mais experiente do grupo, com 96 anos recém completados.

- Não tenho 96 anos de velhice, mas sim tenho 96 anos de juventude! - diz, orgulhosa, em um clube em que as mulheres adoram contar a idade.

O treino é levado muito a sério. Uma hora inteira, 3 vezes por semana. E elas até fazem apresentações gratuitas em vários pontos da cidade para incentivar outros idosos. O prazer de nadar é tão intenso que muitas encaram duas horas para chegar e duas horas para voltar para casa.

- Essas pessoas que estão aqui hoje me ensinaram a nadar. Por isso eu venho ter o meu momento aqui, que não tem preço, mesmo levando duas horas de metrô, ônibus e caminhada - explica Joyce Clarke.

Rasheeda Eli tem 83 anos. Sofre de asma desde a infância e, em 2004, uma rigorosa artrite na espinha a colocou em uma cadeira de rodas. Ela não consegue mais caminhar, nem ficar em pé, e entra com extrema dificuldade na piscina, coma  ajuda de um aparelho.

- Minha espinha está muito danificada, mas nessa piscina, eu esqueço disso. A razão de eu gostar de fazer o nado sincronizado é porque eu posso dançar. Eu posso dançar! Eu não posso dançar aqui fora mas eu posso dançar na água! - conta, emocionada.

A equipe foi criada em 1979, por um grupo de aposentados. Rasheeda participa desde o primeiro dia. O grupo ainda tem 3 homens, chamados carinhosamente de ursos, por causa do nome do clube. Aron Key-Mitchel aprendeu a nadar há apenas 6 meses, aos 60 anos de idade. 

- Ah meu Deus! Eu nem achava que poderia fazer essas coisas, só via pela televisão. E agora estou fazendo dentro da água, é divertido demais. Tenho o maior orgulho de ser um dos ursinhos para fazer companhia para as "melzinhas" - diz.

Apesar das limitações, todas se esforçam para praticar os movimentos, ensaiados com disciplina e amor. Aos poucos, elas formam uma estrela com a ajuda dos braços e pernas unidos e despreocupados.



Fonte: Site Eu Atleta.


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